Um servo da Igreja

23/01/2019 09:45

A vocação sacerdotal não resulta, no meu entendimento, de um dom recebido pela pessoa, mas sim de um chamado advindo do Alto – um chamado de Deus – direcionado àqueles jovens que o Pai preparou desde toda eternidade para que viessem abraçar o sagrado caminho sacerdotal.

É o que se depreende do texto constante da Exposição “Vocação Sacerdotal – um Chamado de Deus”: “Cristo tem necessidade de cada um dos sacerdotes, como teve de Pedro, de São Tiago e de São João. Os sacerdotes são as mãos, os pés, os olhos, a mente, o coração de Jesus Cristo; são os canais e os meios pelos quais Ele vai comunicar-se à humanidade”.

Exatamente dentro desta linha, o Cristo fez chamar à vida religiosa o jovem Godofredo Barenco Coelho, primo querido de minha mãe, nascido em 3 de agosto de 1905.

Nesta cidade fez seus primeiros estudos no Colégio São Vicente e durante este tempo residiu junto com parentes próximos, no bairro do Valparaíso, à Rua Gonçalves Dias, residência de meus avós, José Pedro Barenco e Isabel Bessa Barenco.

A Ordenação sacerdotal e a 1ª missa solene celebrada pelo Pe. Godofredo Barenco Coelho se deram em Petrópolis, em 17 de dezembro de 1932 e posteriormente em Mauá, Distrito de Magé, em 1º de janeiro de 1933.

Leêm-se, os seguintes dizeres, a tal propósito, através de documentação guardada pela família:

“Ó padre! tu, quem és? / Não és de ti mesmo, porque és do nada;/ Não existes por ti, porque és mediador entre Deus e os homens; / Não vives para ti próprio, porque deves viver [só para Deus;

Não te pertences, porque és o servo de todos; / Não és tu, porque és Deus. Que és então? / És nada e tudo,Ó Padre!

Cabe ser relembrado, ainda, que em passado distante, ou seja, em 30 de novembro de 1929, na Catedral de Marianna, foi a data em que recebeu a Primeira Tonsura conferida por S. Exa. Revma D. Helvécio Gomes de Oliveira A imposição da Tonsura, melhor esclarecendo, não se trata de um rito sagrado, apenas uma simples cerimônia instituída pela Igreja com o fito de introduzir oficialmente no clericato, em caráter oficial, os que Deus chama ao sacerdócio.

Pe. Godofredo Barenco Coelho, mais tarde Monsenhor, teve passagem marcante perante a dois municípios do então Estado do Rio de Janeiro, ou seja, na Paróquia de N. S. das Dores de Areal, na condição de seu segundo Vigário, nos idos de 28 de abril de 1935, sempre atento, segundo testemunho da família e de amigos, ao rebanho de fiéis que lhes acompanhavam os passos, fazendo ouvir e zelar pelos mais pobres e ajudando tirar da sarjeta os miseráveis, o mesmo ocorrendo quando Vigário da Matriz de São Gonçalo.

Sacerdote de grande fé, bondoso e de um coração que quase não lhe cabia no peito, de fala pausada, ainda me lembro bem de seu jeito de ser e de agir, embora que ainda fosse muito moço à época.

Em 17 de dezembro de 1957, após cumprir bela e fervorosa trajetória em favor da Igreja e de seus paroquianos, completou 25 anos de sacerdócio.

Monsenhor Godofredo Barenco Coelho, quando à frente da paróquia de São Gonçalo, já adoentado, ali desempenhou seu sacerdócio até a data em que partiu para Pátria Celeste, no dia 4 de setembro de 1965.

O religioso, sempre atento aos desígnios de Deus e nunca tendo se esquecido dos fiéis, amigos e parentes, fez dirigir aos mesmos, as seguintes palavras, em 17 de dezembro de 1957, justamente por ocasião da comemoração de seus 25 anos de sacerdócio:

“Todos vós meus amigos: – agradecei comigo a Deus o dom inefável do Sacerdócio, que por vinte e cinco anos, já me foi dado exercer; –  reparai por mim “meus imensuráveis pecados, ofensas e negligências; – impetrai-me o divino auxílio, para um futuro de maior fidelidade e de correspondência menos imperfeita aos desígnios do Senhor”.

Justamente, esse servo do Senhor foi traído por seu próprio coração, que embora sempre lhe batendo forte no peito, todavia traiu-lhe deixando de bater exatamente quando completava sessenta anos, após percorrer a mais bela trajetória que um sacerdote pudesse almejar.

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