Uma crônica para o Natal

21/12/2016 12:00

Eu não quero nesse Natal nenhum cipreste fantasiado de árvore de natal; nem presépios de qualquer magnitude ; nem bolas de plástico coloridas ; nem velas acesas ou apagadas; nem ornatos com motivos religiosos e profanos; nem cânticos maviosos de corais sóbrios e bamboleantes; nem missa do galo e outras celebrações religiosas; nem ceia repleta de guloseimas e bebidas; nem cumprimentos sinceros, protocolares e falsos; nem presentes simples e de encantar os olhos e os desejos; nem programas televisivos especiais; nem cartões coloridos e com frases lindas e de incentivo à vida; nem beijos e abraços de queridos e queridas; nem o desprezo daqueles que desencantei e de tantos que me feriram; nenhum compromisso do pensamento com felicidade, confraternização, leviano amor; nada e nada sobre qualquer tipo de comemoração …

O momento não aceita luzes e cores e nem votos de redenção e reencontros de amizade e de amor verdadeiro.

… Comemorar?! O quê, senhor? Não, senhor, nesse terreno minado pela discórdia, desamor, corrupção, vilania, que borda os acolchoados que envolvem o globo terrestre?! Não, senhor, em um país de população desgraçada pelas políticas de homens e mulheres sem pudor cívico, sem pruridos corretos de dignidade?! Não, senhor, nesse campo minado de engenhos prestes a corromper honra, justiça, confiança, verdade?! …

É demais para quem, como eu, sempre desejou o melhor que a vida honestamente possa conceber, sempre na crença da bondade humana alçar-se mais alta do que isso que vemos na vida social e política que nos rege… Rege?!

Medonha a constatação de estar a propina vil financiando o natal de bandidos de todas as espécies – até os já aprisionados – que podem receber um indulto especial para passar a festa em casa e, em seguida muitos deles escafederem-se pelos buracos que acolhem as dejeções…

Ah ! Comemorar, sim, um país harmônico, sob políticos sérios e comprometidos com suas funções e atribuições; sim, com as famílias felizes sob as conquistas pela dedicação ao trabalho, ao amparo ao próximo, a vida sedimentada sobre cânones à beira da perfeição; sim, pelo santo orgulho de respeitar os símbolos nacionais em paradigma de honra, de justiça correta e humana; sim, quando o povo receber alfabetização consciente e souber escolher seus representantes; sim, quando a ciência poderosa receber apoio dos governos na democratização do atendimento e amparo aos doentes e necessitados…

Gostaria de passar o meu natal de hoje com um mínimo de esperança nos destinos do meu país, o que sei, impossível porque…

Por que?

Porque sinto estar em uma ilha, no espaço infinito do imponderável, cercado por tubarões famintos, se escolher fugir pelo mar, e por alcateias de lobos vorazes, se optar pelo coração do paraíso perdido.

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