Vale: veja perguntas e respostas sobre a sucessão no comando da empresa

02/mar 08:00
Por Redação / Estadão

O mandato do presidente da Vale, Eduardo Bartolomeo, se aproxima do seu fim, e sua sucessão permanece indefinida. A ingerência do governo federal sobre quem deve assumir a mineradora gerou uma divisão entre os acionistas da companhia. A última reunião do conselho de administração da companhia para discutir o tema foi inconclusiva.

Nesta semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tentou emplacar o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega na companhia, voltou a falar sobre a empresa. Na última terça-feira, 27, Lula disse que a empresa Vale “não pode pensar que é dona do Brasil” e que “as empresas brasileiras precisam estar de acordo com o entendimento de desenvolvimento do governo brasileiro”. Veja a seguir perguntas e respostas sobre a sucessão pelo comando da Vale.

O que é a Vale?

Privatizada em 1997, a Vale é hoje uma multinacional da mineração. É uma das maiores produtoras de minério de ferro, de pelotas e de níquel do mundo. A empresa foi fundada em 1942 como Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) para a exploração das minas de ferro na região de Itabira, em Minas Gerais.

A Vale anunciou, no último dia 22, um lucro de R$ 39,94 bilhões em 2023, cifra que representa uma queda de 58% frente o resultado do ano anterior. O desempenho mais fraco se deve a perdas cambiais e ao menor preço médio realizado pelos insumos no período.

Quem é o atual presidente da Vale? Quando termina o seu mandato?

O atual presidente da Vale é Eduardo Bartolomeo e seu mandato está previsto para terminar no dia 26 de maio de 2024.

Como é o processo de escolha do presidente da Vale?

No início de fevereiro, a Vale esclareceu que seu Estatuto Social define que a escolha do Presidente da companhia é de competência exclusiva do Conselho de Administração, formado por 13 conselheiros. O Conselho está avaliando a eventual renovação do mandato do atual presidente, Bartolomeo, ou a realização de processo sucessório.

O comunicado foi uma resposta a questionamentos da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) sobre notícias publicadas na imprensa sobre a situação. De acordo com a mineradora, o processo está “em conformidade com as legislações aplicáveis e com as melhores práticas de governança corporativa, presentes no Estatuto Social da Companhia”.

O Conselho de Administração conta com o apoio do Comitê de Pessoas e Remuneração. Segundo a Vale, a decisão sobre a renovação do mandato ou a escolha de sucessor poderá ocorrer até o término previsto do mandato em vigor, ou seja, dia 26 de maio.

A última reunião do Conselho foi no dia 22 de fevereiro, sem conclusão sobre a sucessão. No momento não há nova reunião extraordinária marcada, segundo apuração do Broadcast/Estadão. Os conselheiros estão dedicados aos comitês de assessoramento, disse uma fonte, e as conversas estão ocorrendo nos bastidores.

Como está a sucessão do atual presidente?

O Conselho de Administração da empresa está dividido. Após algumas reuniões, ainda não houve decisão devido a um empate. Enquanto isso, o impasse começa a afetar os papéis da mineradora, que já recuaram cerca de 15% neste ano.

Se o colegiado decidir que Bartolomeo não deve ser reconduzido, deverá escolher um nome numa lista tríplice a ser apresentada por uma consultoria especializada.

Na quinta-feira passada, 22, seis conselheiros, de um total de 13, votaram pela troca do atual presidente, Eduardo Bartolomeo. O grupo inclui os representantes da Previ, o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, por meio do qual o governo exerce influência na empresa; da Bradespar, o braço de investimentos do Bradesco; o representante dos funcionários na companhia e minoritários brasileiros. Do outro lado, sócios estrangeiros da companhia e independentes querem evitar maior influência do governo na companhia. O representante da Cosan se absteve.

O que quer o governo?

Integrantes do governo têm alegado, nos bastidores, que é necessário um novo presidente que permita o alinhamento de agendas da empresa com o Executivo federal. Auxiliares de Lula dizem esperar contar com a empresa para auxiliar no crescimento da economia e na geração de empregos. Defendem, por exemplo, que a empresa internalize partes da cadeia de exportação do minério de ferro, como a pelotização e a briquetização, feitas hoje no Golfo do México e no Oriente Médio.

O tema da sucessão na Vale começou a ser debatido no ano passado, com o governo Lula indicando que gostaria de ver o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega como CEO. O ministro Alexandre Silveira chegou a defender a indicação a acionistas da empresa. Dois representantes do Conselho de Administração da companhia – Daniel Stieler, presidente do colegiado, e Ollie Oliveira, líder dos conselheiros independentes – se encontraram com Silveira para argumentar contra a intervenção em favor de Mantega. No dia seguinte, o governo recuou e desistiu de tentar emplacar Mantega no cargo de CEO da mineradora. Silveira negou publicamente a ofensiva.

O que querem os conselheiros?

Seis conselheiros ligados a investidores estrangeiros, como os fundos BlackRock e Capital, a Mitsui e independentes, votaram pela permanência de Bartolomeo. Para esse grupo, a extensão do mandato de Bartolomeo por pelo menos mais um ano garantiria a continuidade do trabalho, blindando a companhia da intromissão do governo Lula.

Quem é cotado para a presidência da Vale?

Entre os nomes que passaram a circular nos últimos dias, voltou o do ex-presidente do Banco do Brasil Paulo Caffarelli, que integrou a equipe de Mantega no Ministério da Fazenda em 2014. Desde que deixou o governo, o executivo construiu uma carreira no setor privado, dirigindo a Cielo e a Simpar, uma holding de logística. Ele também foi conselheiro da Vale. Uma das vantagens do executivo na disputa é o apoio da Previ, principal ator contra a permanência de Bartolomeo, e seu trânsito no mercado.

Luiz Henrique Guimarães, representante da Cosan no Conselho de Administração da empresa, é outro cotado para o cargo, caso Bartolomeo não seja reconduzido. Guimarães já foi CEO da Cosan, Raízen e Comgás. (Com informações de Mariana Carneiro e Juliana Garçon)

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