Vendedor de pipoca publica livro de poesia em Petrópolis

29/01/2017 07:00

Ferreira Goulart, Vinícius de Moraes, Cecília Meireles, Gregório de Matos, Manuel Bandeira… Grandes nomes da poesia brasileira. Mas será que sempre o foram? Quando é que uma sociedade reconhece e passa a valorizar seus talentos? Há pouco mais de um ano, em Petrópolis uma luzinha foi acesa com a publicação (rara) de um livro de poesia: “Tijolos Poéticos”. O autor? Um vendedor de pipoca, que muita gente já deve ter visto na rua. Mas especialistas literários garantem: hoje, em Petrópolis, não existe ninguém com um talento como o dele.

Leandro Israel tem 30 anos e trabalha na rua, vendendo pipoca, paçoca e doces desde os 10. Começou a trabalhar porque o pai adoecera. Era uma doença no estômago: “nada parava na barriga dele”, lembra Leandro. A mãe, dona de casa, conseguia “bicos”, esporadicamente, como diarista. “Partiu de mim. Eu quis trabalhar para ajudar em casa. Mas nunca parei de estudar”, garantiu. Em 2012, Leandro conseguiu, através do ENEM, uma bolsa na faculdade de Pedagogia na Universidade Estácio de Sá, em Petrópolis.

Vencedor do concurso de poesia Serra Serata 2016, o poeta começou a escrever aos 14 anos, quando fez seu primeiro poema, no dia 29 de novembro de 2000. Sempre muito tímido e calado, Leandro conta que encontrou na poesia uma forma de se expressar. “A poesia é para mim uma forma de comunicação com o mundo. E também uma forma de organização dos pensamentos e sentimentos”, disse.

O ambulante escreve “sonetos acrósticos”, que é uma mistura do soneto datílico tradicional (composto por dois quartetos e dois tercetos) e do acróstico (poesia em que as primeiras letras de cada verso formam, em sentido vertical, uma palavra). Nas obras de Leandro, essa palavra formada na vertical é sempre o título do poema. Então, todas as poesias têm títulos de 14 letras. Essa mistura de técnicas, Leandro conta que foi inspirada na história da MPB – que, segundo o autor, teve Caetano Veloso como o primeiro a misturar as técnicas Plano e Vibrato na música.

“Escrever sonetos é muito difícil até para nós que estamos acostumados com isso, mas no caso de Leandro, são poemas com uma construção ainda mais complexa”, disse a presidente da Academia Brasileira de Poesia, Catarina Maul. “Ele é o melhor em Petrópolis. Hoje, não existe ninguém com um talento como o dele na cidade”, declarou.

Leandro já escreveu três livros, mas esse é o primeiro a ser publicado. A editora Autografia, do Rio de Janeiro, aprovou por unanimidade a obra e fez a publicação, gratuitamente, do livro do vendedor de pipoca. “É muito difícil as editoras publicarem livros de poesia. Normalmente, quem escreve poesia já tem em mente que terá que pagar pela publicação de seu livro. O Leandro, com seu talento, conseguiu que seu livro fosse publicado de graça”, observou Catarina.

O vendedor de pipoca, que ainda planeja escrever outros livros, sonha em apresentar ideias novas, através da arte literária, “para que a sociedade se veja livre de padrões que foram impostos ao longo do tempo – como o preconceito”.

O livro “Tijolos Poéticos” pode ser adquirido nos sites das livrarias Saraiva e Cultura e, em Petrópolis, na banca de jornal Dom Pedro (próxima ao Colégio Estadual Pedro II). Para contato com o autor, basta enviar e-mail para israelleandro291@gmail.com

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