Venezuela inicia vacinação e oposição reclama de prioridade dada a chavistas

19/02/2021 07:57
Por Redação, O Estado de S.Paulo / Estadão

O governo da Venezuela começou nesta quinta-feira, 18, seu programa de vacinação em massa. Segundo o presidente, Nicolás Maduro, os primeiros imunizados com a vacina russa Sputnik V serão os profissionais de saúde. A lista de prioridades, no entanto, inclui burocratas do regime, militares e deputados – a maioria ligada ao chavismo.

A Venezuela tem cerca de 1 milhão de profissionais de saúde, de acordo com organizações médicas. Segundo Maduro, eles serão os primeiros a serem vacinados. No entanto, os grupos que vêm depois é que chamam a atenção. A lista de prioridades do governo inclui “pessoas com funções sociais que protegem a população nas ruas” – segundo Maduro.

Na prática, os vacinados serão agentes das forças de segurança, militares e altas autoridades governamentais, incluindo os 277 deputados da Assembleia Nacional, dos quais 92% são ligados ao chavismo, eleitos nas eleições de 6 de dezembro, que a oposição afirma terem sido fraudadas.

Segundo Maduro, ele e sua mulher, Cilia Flores, que também é deputada, deveriam ser vacinados o quanto antes. “Ainda vamos decidir o momento em que nós (Maduro e Cilia) seremos vacinados”, afirmou o presidente, antes de rasgar elogios à Sputnik V, que segundo ele “é a melhor vacina do mundo”.

O objetivo do governo chavista é vacinar 70% da população venezuelana até o final do ano. Na semana passada, Maduro confirmou a chegada de 100 mil doses da Sputnik V e está em negociações para comprar mais vacinas usando recursos congelados pelo programa de sanções dos EUA. Até agora, o chavismo comprou um total de 10 milhões de doses da vacina russa, pelas quais teria pagado US$ 200 milhões, segundo informou o próprio Maduro. O anúncio foi criticado ontem pela oposição.

“Os critérios para a aplicação da vacina devem priorizar o setor saúde e os idosos, não aqueles que sequestram o poder como o ditador pretende fazer”, escreveu no Twitter o líder opositor Juan Guaidó, que não deixou passar o dinheiro gasto com a Sputnik. “O custo da vacina russa é inferior a US$ 10 (por dose). Se a ditadura diz que investiu US$ 200 milhões para trazer 10 milhões de doses, estamos falando que cada vacina custou US$ 20.”

Outras vozes da oposição também criticaram a politização da vacina. “Exigimos que a população da Venezuela seja vacinada, começando pelos mais vulneráveis ao coronavírus, com critérios internacionais que não seja usado politicamente”, disse a ex-deputada de oposição Dinorah Figuera.

Celebração

O governo venezuelano, porém, comemorou o início do programa de vacinação. “Hoje, começamos o plano para servir àqueles que estão na linha de frente da luta contra o coronavírus”, disse a vice-presidente, Delcy Rodriguez, em pronunciamento na TV. “Nos próximos meses, teremos mais de 70% da população vacinada e alcançaremos a chamada imunidade de rebanho”, garantiu o ministro da Saúde, Carlos Alvarado.

Os números oficiais mostram que a Venezuela teve um total de 134.319 casos de covid-19 e 1.297 mortes. No entanto, especialistas e líderes da oposição afirmam que o número é muito maior. O sistema de saúde venezuelano é um reflexo da crise econômica vivida pelo país. Médicos e enfermeiros frequentemente reclamam dos baixos salários e das más condições de trabalho nos hospitais públicos, que sofrem com a falta de água, energia e remédios.

No hospital Miguel Perez Carreno, no oeste de Caracas, 150 enfermeiras – 90% do total – não compareceram ao trabalho ontem em protesto contra o salário de apenas US$ 3 (pouco mais de R$ 16) por mês. O Ministério da Informação da Venezuela não respondeu aos pedidos de entrevista feitos pela Reuters.

Ontem, imagens da emissora VTV mostraram as primeiras doses da vacina sendo aplicadas em um hospital do Estado de Miranda – perto de Caracas -, que é referência para tratar casos de covid-19. Segundo o governado estadual, 80 mil pessoas já foram tratadas de covid no hospital. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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