Verões sem gelo no Ártico podem acontecer mais cedo do que o esperado

06/mar 20:48
Por Ramana Rech / Estadão

Verões sem gelo no Ártico podem se tornar uma realidade mais cedo do que o esperado, estima um estudo de pesquisadores do Estado do Colorado, nos Estados Unidos. As drásticas mudanças das condições na região podem acontecer entre 2035 e 2067. O período pode ser adiado a depender do nível de emissão de gases poluentes.

Um Ártico sem gelo não significa que a água em estado sólido da região irá desaparecer totalmente. Os pesquisadores consideram que, a partir de uma cobertura de gelo menor do que 1 milhão de km², a área já pode ser considerada sem gelo. Em termos de comparação, em 1980, essa cobertura em setembro equivalia a 5,5 milhões de km².

O limite máximo de gelo necessário para definir o derretimento no Ártico variou ao longo dos anos. A comunidade científica chegou a considerar esse cenário como o desaparecimento quase completo do gelo do mar.

Mas, como há um gelo grosso nas montanhas do norte da Groenlândia e no Arquipélago Ártico do Canadá, se tornou consenso classificar a condição de sem gelo como referente a uma cobertura menor do que 1 milhão de km². O gelo nessas regiões da Groenlândia e Canadá podem demorar mais de dez anos para derreter após o fim do gelo de Setembro no Ártico.

O primeiro dia sem gelo no Ártico pode vir dez anos antes do previsto em setembro, mês que traz as temperaturas mais altas na região.

Os cientistas alertam que, com isso, o Ártico deixaria de ter uma cobertura de gelo perene passando para uma cobertura sazonal. A paisagem do verão se transformaria de branca para azul à medida que o gelo se transformasse em água.

– O estudo avalia que as emissões de gases do efeito estufa e CO2 das atividades humanas são os responsáveis pelas mudanças drásticas na região.

– Enquanto verões frequentes sem gelo são esperados entre 2035 e 2067, o primeiro dia sem gelo no Ártico pode ocorrer até 2030.

Os primeiros dias sem gelo no Ártico podem ocorrer em cenários onde a temperatura se eleve em patamares a partir de 1,3 ºC acima da média histórica pré-industrial. Segundo o estudo, o derretimento no curto prazo é quase inevitável. Se o aumento da temperatura ficar limitado a 1,5 ºC (como pretendido pelo Acordo de Paris), há uma chance de apenas 10% de que verões sem gelo no Ártico não aconteçam.

Apesar disso, o estudo ressalta a necessidade de reduzir a liberação de gases do efeito estufa e de CO2 na atmosfera. No fim deste século, períodos sem gelo podem ocorrer entre maio e janeiro e entre agosto e outubro em um contexto de alta emissão. Mesmo em cenários de baixa emissão, não haverá gelo pelo menos nos meses do verão ártico.

Quais as consequências de um Ártico sem gelo?

À medida que o gelo derrete, a quantidade de radiação solar de ondas curtas absorvidas no Ártico aumenta e, por isso, a água irá esquentar ainda mais, apontam os especialistas. Além disso, sem a barreira natural do gelo, as ondas irão se tornar maiores, o que irá provocar aumento na erosão da costa do Oceano Ártico.

Do ponto de vista da fauna, a ausência de gelo no verão ameaça a vida de mamíferos que dependem dele para viver, como os ursos polares e as focas. Esses animais se alimentam de peixes. Sem a presença deles, o planeta pode esperar uma possível migração de algumas espécies de peixes da região subpolar para o Ártico.

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