Versão de Snyder para ‘Liga da Justiça’ ganha final digno para suas 4h de duração
Chegou a hora que os fãs dos filmes da DC – ou pelo menos os filmes de Zack Snyder no universo DC – tanto esperaram. Depois de uma campanha de anos na internet, as plataformas digitais brasileiras recebem a versão Zack Snyder de Liga da Justiça, intitulada Liga da Justiça de Zack Snyder. O longa estará disponível no Brasil até 7 de abril sob demanda na Apple TV, Claro, Google Play, Looke, Microsoft, Playstation, Sky, UOL Play, Vivo e WatchBr. A partir de junho de 2021, ele entra na HBO Max, após o lançamento da plataforma no País.
E o fã deve ficar contente. Liga da Justiça de Zack Snyder é muito diferente do original, incluindo o final, e é tudo o que se espera de um filme do diretor de 300 e Homem de Aço: bombástico, com cenas grandiloquentes e sombrias, muita câmera lenta, intenso uso de música pop. Muito tudo. Inclusive muitos minutos: o novo corte tem quatro horas de duração, ante duas do original creditado a Snyder, mas feito por Joss Whedon e que era um total desastre.
A verdade é que, apesar da duração inflada, é mais fácil de assistir à versão de Zack Snyder do que a de Joss Whedon, que era confusa e não fazia sentido. Provavelmente o diretor não precisava de quatro horas, mas pelo menos fez o favor de dividir em seis capítulos, mais um grande epílogo, que funcionam mais ou menos como episódios de uma série. Agora está tudo explicado, até demais.
Os efeitos visuais são bem melhores do que o original, especialmente a concepção de um dos vilões, Steppenwolf (voz de Ciáran Hinds). As cenas de ação também são bem mais elaboradas, principalmente as que envolvem The Flash. Snyder teve um orçamento de US$ 70 milhões, usados basicamente em efeitos visuais, que incluíram o vilão Darkseid, por exemplo, apenas citado no original.
A história em si não mudou muito: com o Superman (Henry Cavill) morto, Bruce Wayne (Ben Affleck) quer honrar a memória do herói unindo-se à Mulher-Maravilha (Gal Gadot), Aquaman (Jason Momoa), The Flash (Ezra Miller) e Cyborg (Ray Fisher) para proteger a Terra e o universo de Darkseid, Steppenwolf e DeSaad, que querem coletar as três caixas maternas e destruir tudo.
Mas no desenvolvimento dos personagens, quanta diferença. As piadas inseridas por Joss Whedon eram deslocadas e não funcionavam na boca desses heróis, que se levam mais a sério do que os da Marvel, ainda mais na matriz de Zack Snyder. Há um ou outro momento de humor, mas em geral o filme aposta mais na emoção. Os personagens sofrem e se rebelam geralmente por amor: Diana por ter perdido Steve, Bruce Wayne faz tudo por causa dos pais assassinados, Barry Allen/The Flash quer salvar o pai preso injustamente, Victor Stone/Cyborg também tem problemas com o pai cientista.
Foi Cyborg, aliás, o que mais sofreu com a versão de Joss Whedon. Aqui, ele tem uma história completa e mais complexa, ausente na versão anterior, em que parecia só um rapaz mimado e carrancudo. O ator Ray Fisher acusou Whedon de comportamento abusivo e pouco profissional no set e os produtores de não terem dado ouvidos às suas reclamações. Mesmo se nada disso tivesse acontecido, ele teria toda a razão de ficar chateado só pelo que fizeram com o seu papel.
Liga da Justiça de Zack Snyder aborda temas comuns dos filmes de super-heróis, que parecem fazer mais sentido do que nunca: a união faz a força, é bom encontrar um sentido para a vida que vá além de você. Mas parece, sobretudo, um filme sobre o luto – no caso, o luto pela perda da esperança representada por um super-herói quase sem defeitos como Superman. Sua partida mergulha a Terra no caos e na falta de perspectiva.
É impossível não ler o filme sob a luz do que estava acontecendo com o diretor na época da produção original, quando sua filha Autumn morreu por suicídio. Snyder, que já estava tendo desavenças com o estúdio por causa do tom sério e sombrio que imprimia nos filmes da DC, achou melhor jogar a toalha. Joss Whedon, que já tinha sido contratado para reescrever o roteiro de Chris Terrio (creditado sozinho agora), assumiu a direção também e refilmou várias sequências.
Segundo a produtora Deborah Snyder, mulher do diretor, apenas uma sequência foi filmada exclusivamente para Liga da Justiça de Zack Snyder, justamente o final. O resto foi recuperado da filmagem anterior e/ou modificado por efeitos visuais.
Liga da Justiça de Zack Snyder não chega a ser realmente bom, nem mesmo se comparado apenas com outros filmes de super-heróis. Mas pelo menos agora é um filme de super-herói com alguma razão de ser. O mais estranho é como ele prepara o terreno para continuações que não devem existir – pelo menos não da maneira como Snyder planejou, pois o diretor já disse estar fora do universo DC.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.