Vettel critica mineração na Amazônia, incentiva reciclagem e revela sentir saudades da F-1

31/out 18:00
Por Felipe Rosa Mendes, Gustavo Faldon e Marcos Antomil / Estadão

Aposentado desde o fim de 2022, Sebastian Vettel está de passagem pelo Brasil nesta semana. E não apenas para acompanhar de perto do GP de São Paulo de Fórmula 1. O tetracampeão mundial conheceu a Amazônia, a convite do líder indígena Raoni, catou lixo na rua para incentivar a reciclagem e revelou, em entrevista ao Estadão, que ainda sente falta da F-1.

“Tem várias coisas das quais sinto falta na F-1, principalmente a competição mesmo. Mas eu escolhi me aposentar e não estou arrependido até agora”, disse o alemão de 37 anos, dono de três vitórias na etapa brasileira do calendário da F-1.

Vettel desembarcou no Brasil no início da semana, mas passou longe do Autódromo de Interlagos. Ele foi visitar a Amazônia a convite de Raoni. O lendário líder indígena, que já concorreu ao prêmio Nobel da Paz duas vezes, é conhecido pela defesa da floresta e suas comunidades, principalmente no Parque Indígena do Xingu.

“Passamos algum tempo perto do Rio Xingu. Conheci os caiapós, fui convidado pelo líder Raoni e Megaron. Eles compartilharam a história deles comigo, as lutas e os esforços que enfrentaram nos últimos anos. Me contaram como eles aprenderam a viver em harmonia com a natureza ao longo de várias gerações. E como agora estão sofrendo para manter suas comunidades vivas e intactas diante da pressão que vem de fora, principalmente a pressão sobre a (propriedade da) terra”, afirmou Vettel ao Estadão.

Nas redes sociais, ele compartilhou fotos na companhia de Raoni e do cacique caiapó Megaron Txucarramãe. “Pude aprender muitas coisas com eles”, disse o ex-piloto da F-1, encantado após sua primeira visita à Floresta Amazônica.

“Ver a Amazônia do topo, voando por cima dela, foi uma grande e bonita experiência. Era tudo verde. De alguma forma, acho que todos nós temos uma conexão com a natureza. Mesmo que a gente passe boa parte do nosso dia no meio do concreto, cercado de prédios, se você tem a oportunidade de fazer uma caminhada no meio do verde, numa floresta, você sente a energia positiva da natureza. Então, você pode imaginar a energia que eu senti na Amazônia, cercado de árvores por todos os lados!”.

Vettel criticou a transformação da floresta em pastos e também em minas, em busca de ouro. “Fiquei devastado por ver a floresta sendo retirada, como se estivesse sendo comida de fora para dentro. Há uns pedaços de terra sem floresta, como se fossem retirados com precisão numa cirurgia. São pedaços em que a floresta foi trocada por campos, me pareceu muito antinatural. Estão destruindo a terra para construir minas, na tentativa de encontrar ouro.”

“São muitos problemas dos quais precisamos estar cientes, primeiramente. Precisamos ouvir as pessoas. Claro que não podemos culpar essas pessoas que vão todos os dias a essas minas procurar ouro. É o trabalho que eles têm, é assim que conseguem pagar suas contas e sustentar suas vidas e suas famílias. Precisamos olhar a imagem maior e entender a situação”, completou.

RECICLAGEM

Já em São Paulo, Vettel liderou uma ação de sustentabilidade, sua principal bandeira desde a aposentadoria na F-1, junto a Coopercaps, a ONG Pimp my carroça e o Instituto Ayrton Senna. O alemão convidou amigos, jornalistas, integrantes do seu fã-clube e até a família Senna para catar material reciclável na rua, numa disputa entre equipes. As irmãs Bianca e Lalali Senna participaram da atividade, assim como o ator Caio Castro.

“O que estamos fazendo hoje é falar sobre as pessoas que possivelmente não tiveram as mesmas chances que você e eu. Esse é um assunto do qual precisamos falar”, disse Vettel, que relacionou questões ambientais com sociais. “Falamos de muitas coisas aqui, mas de alguma forma todas estão conectadas.”

O alemão aprovou o desempenho dos grupos, que recolheram 260 quilos de lixo reciclável ao longo de uma hora. Um catador sozinho junta, em média na cidade de São Paulo, 300 quilos de material reciclável ao longo de um dia.

“Foi impressionante ver o que as pessoas fazem aqui nesta cooperativa. Homens e mulheres vão para as ruas todos os dias catar lixo. Não fazem isso para nos ajudar, mas porque precisam sobreviver. E fazem isso recebendo muito pouco dinheiro. Hoje conseguimos criar uma situação que nos faz refletir sobre esse assunto”, disse o tetracampeão mundial.

Últimas