Viagem pitoresca

25/07/2018 08:30

Durante a última viagem que fizemos ao Rio de Janeiro, valemo-nos do ônibus que se nos apresenta, pelo menos aparentemente, como o meio de transporte mais seguro para o deslocamento das pessoas àquela cidade, até porque percorrer a descida da serra de Petrópolis e ingressar no trecho da baixada, é necessário uma “dose de coragem”, sem falar que já na capital do Estado temos também que andar bem atentos, ou seja, de “olhos bem abertos”.

Este o retrato impiedoso da nossa tão decantada Cidade Maravilhosa e, outrossim, do nosso país que se encontra em frangalhos nos mais diversos setores da administração pública, como da atividade privada.

Pois bem, embarcamos às 8h30min na estação rodoviária situada no bairro Bingen, na expectativa de encontrar alguma pessoa de nossas relações que poderiam compartilhar um “bom papo” durante o percurso até o Castelo, ponto terminal do ônibus.

Todavia, sentou-se a nosso lado uma figura absolutamente pitoresca, aliás um intelectual dotado de um sentimento de crítica bastante apurado, inclusive poeta e por isso mesmo, ainda que não o conhecesse fomos conversando durante todo o trajeto. Ele a contar fatos relacionados com sua vida, profissão em que atuou, a família, os filhos e emocionadamente acerca da perda da esposa que nunca fez esquecer, ao que pudemos depreender. 

Assim é que, sempre quando possível, valendo-se da simpatia que fazia irradiar, relatava ora uma passagem marcante da sua vida, a bela carreira escolhida pelos filhos além de outras situações que nos foram narradas, todas dignas de atenção e comentários por parte de nós dois. 

Percebemos também, desde o início de nossa conversa, acerca do espírito absolutamente observador do companheiro de viagem, sobretudo crítico; nós, por outro lado, prestando atenção com relação à fixação do mesmo relativamente a um passageiro que se sentava em poltrona próxima, até que já com um sorriso nos lábios disse-nos: “perceba senhor o tamanho avantajado do nariz do passageiro à nossa direita”. Estranhamos e não podemos negar quanto a  observação do interlocutor e realmente acabamos por concordar com o mesmo, lembrando-nos, todavia, do poeta quando escreveu:

“Quando morreu o infeliz, / embaixo da terra embora, / o seu enorme nariz /cheirava tudo por fora”. 

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