Vice do BCE projeta recuperação europeia no 2º semestre em níveis pré-pandemia

25/02/2021 15:22
Por Gabriel Caldeira / Estadão

Apesar de esperar que a atividade econômica da zona do euro no primeiro semestre de 2021 seja um “pouco mais fraca” que o previsto, o vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE), Luis de Guindos, disse que a vacinação em massa contra a covid-19 no continente poderá fazer com que a recuperação da economia europeia retome os níveis anteriores à pandemia. “A vacinação será chave para a perspectiva econômica. Acho que teremos surpresa positiva na segunda metade do ano”, afirmou, em evento da Escola de Negócios IESE nesta quinta-feira.

Entre os potenciais riscos à retomada neste ano, além de possíveis atrasos na imunização, Guindos citou a baixa lucratividade dos bancos europeus. Este fator pode causar uma onda de insolvência e inadimplência de empresas no continente, segundo o dirigente do BCE, em especial se os governos da zona do euro retirarem muito cedo as medidas de apoio fiscal adotadas para estimular as economias durante a crise.

“A primeira linha de defesa contra a crise é a política fiscal”, disse Guindos, acrescentando que os banco centrais acompanharam a resposta de governos por meio de acomodação monetária.

Diante das preocupações com uma alta inflacionária causada pelos estímulos fiscais, Guindos afirmou que o nível de preços na zona do euro esteve muito baixo no ano passado, com um “importante” avanço nos primeiros meses de 2021, e opinou que a inflação não deve ser um problema para a região a curto prazo, em um ou dois anos.

Há, porém, a possibilidade de essa tendência se inverter depois da pandemia, segundo Guindos. Ele aponta para a esperada regionalização das cadeias de produção global como um dos fatores que podem pressionar o nível de preços a um viés de alta no futuro, encerrando um longo período de inflação fraca, abaixo da meta de 2% do BCE.

Unificação de mercados e Brexit

O vice-presidente do Banco Central Europeu defendeu ainda o plano de unificação dos mercados da Europa, de forma a criar um “centro financeiro próprio” no continente, após a saída do Reino Unido da União Europeia. O Brexit, como é conhecido o movimento feito pelos britânicos, não preocupa o bloco, de acordo com Guindos, que prevê um papel mais proeminente dos mercados de Nova York para os serviços financeiros da Europa.

O dirigente comentou também sobre a possibilidade de ativos estarem sobrevalorizados nos mercados de ações ao redor do mundo. Para Guindos, o cenário europeu está sob controle, e um possível problema de sobrevalorização está “bem mais claro” ao olhar para as bolsas nova-iorquinas.

Segundo ele, taxas de alavancagem – mecanismos que aumentam a rentabilidade de um ativo por meio de operações de crédito – bem mais folgadas nos Estados Unidos explicam o fato de os mercados americanos estarem mais sujeitos ao fenômeno de sobrevalorização de ações.

Guindos opinou ainda sobre as recentes altas de criptomoedas, em especial o bitcoin. Para ele, este tipo de ativo possui fundamentos muito fracos. “É volátil e desconectado de fundamentos reais que precificam uma ação. Me surpreende que um investimento tão frágil chame tanta atenção”, disse o dirigente do BCE.

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