Vilma Nascimento, porta-bandeira da Portela, afirma ter sofrido abordagem racista em aeroporto

24/11/2023 16:03
Por Redação E+ / Estadão

Vilma Nascimento, histórica porta-bandeira da escola de samba Portela, contou que foi vítima de racismo na loja Dufry Brasil, no aeroporto de Brasília. O fato se deu um dia após a baluarte ser homenageada, na capital do País, no Dia da Consciência Negra. A loja já se pronunciou e pediu desculpas, afirmando que afastou a profissional que abordou Vilma.

Nascimento, de 85 anos, detalhou o que aconteceu no Encontro desta sexta-feira, 24. Ela estava acompanhada de sua filha, Daniele. “Quando nós chegamos no aeroporto, Daniele quis comprar uma lembrança para o filho dela e para o marido. Ela ficou olhando o presente, fiquei vendo os perfumes. Sou considerada, no mundo do samba, a cheirosa”, brincou.

“O vendedor ficou me acompanhando, me falando os preços porque não enxergo direito”, relatou. “Quando Daniele acabou de comprar, ela pagou o que comprou e saímos. Quando passo pela loja, a segurança chama a gente para entrar e revistar a bolsa.”

Segundo a carnavalesca, a segurança pediu que Vilma retirasse todos os pertences da própria bolsa por suspeita de furto. O momento foi registrado por Daniele e divulgado nas redes sociais.

“Nunca imaginei ter que passar por isso na vida”, declara Vilma no vídeo.

“Ela primeiro me abordou”, contou a filha. “Estavam suspeitando que peguei um produto da loja sem pagar. Foram seguindo naquela abordagem, minha mãe não tinha percebido nada. Só vi que a fiscal estava me levando para dentro da loja. Aí, escutei alguém falar no rádio para ela: ‘Não leva essa não. Vasculha a bolsa da senhora'”. Segundo Daniela, nesse momento, ela começou a se preocupar com a mãe.

“Nessa hora, o que dá vontade é de perder o controle”, ressaltou. “Aí pensei: ‘Vou gravar’. Fiquei com medo da minha mãe ser incriminada por alguma coisa, então comecei a gravar para provar a inocência dela”.

De acordo com a filha de Vilma, após a porta-bandeira mostrar que não tinha roubado nada, a segurança foi instruída a continuar vasculhando. Nesse momento, Daniela quis chamar a polícia.

“Eu ainda perguntei: ‘Quer que eu fique nua? Fico nua aqui na loja'”, contou Vilma.

Daniele chegou a questionar o motivo daquela situação. “Eu perguntei: ‘Por que vocês estão tratando a gente assim? É por causa da nossa cor?'”, questionou. Segundo ela, a segurança respondeu que “estava fazendo o seu trabalho”. A filha de Vilma conta que, ao querer sair da loja, se sentiu tratada “como uma ladra fugitiva”.

“Eu ia quebrar aquela loja”, contou Vilma, que se sentiu indignada. Quando elas finalmente saíram da loja, Daniele afirma que desabou e começou a chorar. Elas quase perderam o voo devido à situação.

Segundo a apresentadora do Encontro, Patrícia Poeta, a polícia abriu um inquérito para investigar o ocorrido. Caso seja comprovada a discriminação racial, os autores terão de pagar 1 ou 2 anos de prisão. Daniele também ressaltou que uma ocorrência sobre o caso foi aberta na Câmara dos Deputados.

Loja pediu desculpas e disse que abordagem “não reflete valores” da empresa

A Dufry divulgou um comunicado na última quinta-feira, 23. Na nota, a empresa pede desculpas públicas “pelo lamentável incidente ocorrido na loja do aeroporto de Brasília” e afirma, ainda, que “a abordagem feita pela fiscal de segurança da loja está absolutamente fora do padrão” do grupo.

“Em razão da falha nos procedimentos, a profissional foi afastada de suas funções. Este tipo de abordagem não reflete as políticas e valores da empresa”, ressaltou a nota. “A Dufry está reforçando todos os seus procedimentos internos e treinamentos, em linha com as suas políticas, para impedir que situações assim se repitam.”

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