Vizinhos abrem suas casas para apoiar trabalho dos bombeiros

11/ago 07:43
Por Ítalo Lo Re, José Maria Tomazela, Hugo Henud e Gabriel de Sousa / Estadão

Primeiro foi o espanto, depois o medo, o desabafo; e, por fim, a disposição de ajudar, no que fosse possível. Foi assim que moradores do Residencial Recanto Florido – onde caiu o avião ATR da Voepass na sexta-feira, 9 – reagiram ao acidente, que os levou ainda a abrir as próprias casas para dar suporte ao trabalho das equipes de bombeiros e da polícia.

O condomínio, que fica em Vinhedo, tem mais de 50 lotes, a maior parte deles com chácaras. “Para qualquer coisa que a gente precisa, eles têm mantido as portas de suas casas abertas. Em torno de duas ou três residências prestaram auxílio (de forma mais ampla). A gente é muito grato”, resumiu a tenente Olívia Perroni, do Corpo de Bombeiros do Estado. Há moradores que têm oferecido água e café às equipes. Segundo Perroni, só uma casa foi atingida – o ATR despencou no seu quintal.

“A gente não consegue dormir, só fica pensando em tudo que vimos”, disse ao Estadão a autônoma Marlene Amstalden, de 51 anos, no condomínio há duas décadas. “Está todo mundo abalado, mas prestando solidariedade, trazendo o que pode. Não consigo explicar, estou em choque ainda”, acrescentou. Ela estava sozinha em casa, ouviu o barulho e, ao sair, teve o susto. “O avião estava em cima da minha casa”, contou, emocionada. Outra que ficou muito assustada foi a assistente financeira Katia Marlene Cicari, vizinha da casa onde o ATR caiu. “O avião passou raspando o telhado da minha casa, rodopiando”, disse. “Eu estava conversando com uma vizinha e ela desmaiou. Minha filha ficou em pânico.”

Abalados

“O maior trabalho de todos é manter a segurança do local, porque há moradores que estão muito abalados”, explicou a presidente da associação de moradores do condomínio, Roberta Henrique, de 38 anos. Os comércios da região têm ajudado muito, disse ela. “Padarias, restaurantes, muitos têm ajudado com mantimentos”, acrescentou.

Há vizinhos também organizando orações. Lucimar de Lima, católica, deu testemunho aos fiéis da Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, ali perto. “Vi o avião rodopiando em cima da casa do meu sogro, de 81 anos. Fechei os olhos e pedi: ‘Nossa Senhora Aparecida, tenha misericórdia de nós’. Pensei nos que estavam no avião e na família deles e falei: ‘Vamos rezar’.”

Aposentada, a evangélica Gertrudes Oliveira, de 72 anos, disse que todas as igrejas estão orando pelas vítimas. Ela admite que não consegue esquecer a cena. “Não dormi nada esta noite. Eu vi o avião caindo e achava que ia cair em cima da gente”, recorda.

Curiosos

Na manhã do sábado, os bloqueios da polícia diminuíram e curiosos foram ver de perto o local da queda. A Rua Melhado Meireles, em frente ao condomínio, chegou a ficar congestionada.

Um homem que se identificou como Fábio ficou junto ao portão do condomínio: “Somos de Valinhos, viemos ver. Ficamos curiosos, mas com pesar também pelas vítimas”. E não faltaram reclamações dos moradores. “O que essa gente está fazendo aqui hoje? Parecem urubus”, reclamou uma moradora que se identificou como Camila.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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