Voando em “V”

29/05/2017 12:00

Uma maravilha da natureza que sempre me fascina é o voo em “V” dos patos e gansos selvagens. O ganso selvagem já mereceu a atenção de um cientista premiado com o Nobel. Trata-se de Konrad Lorenz, que se dedicou ao estudo da linguagem e dos costumes sociais dessa ave. Ele descobriu que para conquistar uma fêmea eles se exibem e podem até brigar. Nas escolhas menos agressivas, os machos usam uma estratégia diferente: fazem lobby com os pais das "moças" para ganhar a confiança deles, já que elas, mesmo casadas, acompanham os pais a vida toda. 

Mas é no ar que o ganso selvagem dá um show de solidariedade. À semelhança de outras aves, como o biguá brasileiro e algumas espécies de patos, ele voa sempre em bandos na formação em “V”. Veja o que já foi descoberto sobre essa estratégia: o voo em “V” economiza energia; à medida que bate as asas, o ganso da frente forma atrás de si um redemoinho de ar ascendente na ponta, criando uma área de sustentação para a ave que vem logo atrás; assim, o grupo inteiro voa pelo menos 71% mais do que se cada ave voasse isoladamente; os gansos que voam atrás, grasnam para encorajar os da frente a manter o ritmo e a velocidade; quando o ganso que vai à frente se cansa, ele vai para a parte de trás do “V” onde fará menos esforço; ao mesmo tempo, é substituído por outro ganso; se um ganso se machuca ou adoece, e precisa separar-se do grupo, dois outros gansos deixam a formação e o acompanham; eles permanecem ao seu lado até que se recupere; depois, os três reiniciam a viagem e juntam-se a outro grupo de gansos até encontrar o seu próprio grupo. 

Os gansos selvagens ensinam: pessoas que desenvolvem espírito de equipe atingem seus objetivos com mais facilidade; é mais fácil avançar quando há revezamento na execução das tarefas mais difíceis; é mais fácil realizar um trabalho com qualidade quando há estímulo e incentivo entre as pessoas de um grupo. Fica aí o exemplo de solidariedade dos gansos, ensinando que o melhor é deixar de lado a competição egoísta. Outro fenômeno que sempre me intrigou é a capacidade de orientação dos pombos-correio. Estudado por vários pesquisadores do mundo inteiro, não se tinha, até pouco tempo atrás, uma conclusão científica satisfatória.

Pois foi isso que os cientistas da Universidade de Auckland, na Nova Zelândia, descobriram! Eles  revelaram que os pombos-correio têm minúsculas partículas de ferro no bico superior que funcionam como as agulhas de uma bússola. Essas partículas, que poderíamos comparar a agulhas, giram e sempre indicam a direção norte. Isso indica que essas aves se orientam pelo campo magnético da Terra, uma idéia que outros cientistas já tinham levantado, mas que não conseguiram provar. Esse feito coube aos pesquisadores da Nova Zelândia. Mas como eles fizeram isso? Os cientistas colocaram pombos-correios em um túnel de madeira com uma plataforma em cada extremidade e os treinaram para escolher uma delas. Quando havia mudança no campo magnético, eles deveriam ir para uma plataforma. Quando não havia alteração, para outra. Na maioria das vezes, as aves fizeram a opção certa, o que mostra que foram capazes de notar as variações no campo magnético e se guiar por elas! Porém, para terem certeza de que haviam chegado à conclusão certa, os pesquisadores fizeram ainda outros experimentos. Em um deles, eles colocaram ímãs no bico superior dos pombos para saber se haveria alguma interferência da capacidade de orientação das aves. Resultado: os animais tiveram suas habilidades prejudicadas.

Aos humanos, dois exemplos de solidariedade, orientação e disciplina, pois, já dizia La Fontaine: “Sirvo-me dos bichos para instruir os humanos”.

achugueney@gmail.com

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