Voar para fugir
A metáfora do voar como forma de fuga é muito comum na literatura. Porém, ao ser utilizada dentro do contexto dos refugiados que se tornaram centro de importantes discussões na Europa, ganha uma nova dimensão. É o que ocorre no filme húngaro ‘A lua de Júpiter’.
Um imigrante sírio é baleado ao tentar entrar ilegalmente na Hungria. Tudo caminharia para ele ser mais um anônimo a desaparecer pelos caminhos confusos das divisões políticas e culturais dos países europeus. Porém, inexplicavelmente, ele começa a levitar.
E isso o leva a ter contato com os mais diversos personagens. Cada um deles mostra uma faceta do chamado Velho Continente. Temos, por exemplo, o médico corrupto do campo de refugiados que e explora o jovem e depois busca nele a redenção. E o policial que se nega a aceitar o inexplicável sobrenatural que baleou inutilmente. Nessa temperatura de encontro entre realidade e fantasia, a tranquilidade do flutuar é a escapatória.
O diretor Kornél Mundruczó oferece diversas cenas de puro de realismo fantástico na esteira de escritores clássicos do gênero, como o genial mineiro Murilo Rubião. O talento desse tipo de criador está justamente em tornar aparentemente banal algo que, em tese, é extraordinário. Assim, uma pessoa flutuar se torna admissível, não precisa de explicação e, acima de tudo, gera sutil encantamento.