Vovô e Vovó

Duas letrinhas, dois acentos e um mundo de boas recordações.  Etelvino e Maria, por parte de pai, e Layete e Judite, por parte de mãe foram meus avós. Até completar treze anos vivi na mesma casa de meus avós paternos, no Rio de Janeiro. Já Layete, advogado conceituado, que hoje empresta seu nome para aprazível rua da praia de Boa Viagem, no Recife, faleceu antes de eu nascer.  Judith a saudosa esposa de meu avô materno, morava em Pernambuco. Viajei com minha mãe para a capital pernambucana, algumas vezes, e pude conviver um pouco com vovó Judith, uma suave, frágil e doce criaturinha.

Por sua reconhecida pureza d’alma, vovó Maria Romero era tratada por Santinha. E, no meu entender, ela operou dois milagres. No primeiro eu estava para completar um ano de vida e fui desenganado pelos médicos em virtude de forte retenção de urina. “Se dentro das próximas vinte e quatro horas seu filho não urinar, nada mais poderei fazer por ele”- prognosticou Dr. Clap, aos meus pais.

Vovó Santinha fez promessa ao coração de Jesus, e antes do prazo se esgotar eu enchi dois penicos com urina e meus pais, outro, com lágrimas. Tempos depois, magrinho e desnutrido fui internado no Hospital Jesus (especializado em crianças) para ser preparado para extirpar o apêndice que, diagnosticado pelos médicos, estava bem inflamado ao ponto de supurar.

O dia da operação foi marcado e na véspera, novos exames foram feitos. Nenhuma inflamação foi constatada para espanto e surpresa da equipe médica e eu recebi alta da internação, bem mais corado e com uns quilinhos a mais. Mais uma promessa tinha sido feita por vovó Santinha e, em agradecimento, durante muitos anos de minha infância assisti missa aos domingos, ao lado dela, com uma fita vermelha, com a imagem do sagrado coração de Jesus, presa ao peito. Os feitos de Dona Maria Romero, mais conhecida por Santinha, não chegaram ao Vaticano, pois se tal tivesse ocorrido por certo ela teria sido canonizada, creio eu.