Zeca Pagodinho celebra 40 anos de palco com DVD, show e tempo para os netos

19/jan 08:19
Por Pedro Só, especial para o Estadão / Estadão

A vida levou Jessé Gomes da Silva Filho até onde ele jamais imaginou. O jovem compositor de 40 anos atrás é hoje cantor, ídolo popular, símbolo de brasilidade e alegria. Consagrado nacionalmente, Zeca Pagodinho vai comemorar no dia 4 de fevereiro 65 anos, no palco, no estádio Nilton Santos, no Rio, ao lado de Alcione, Jorge Aragão, Xande de Pilares, Diogo Nogueira, Seu Jorge, Marcelo D2 e Djonga. Em junho, ele inicia turnê nacional no Espaço Unimed, em São Paulo.

“65 anos… Pesado, hein?”, comenta o sambista em seu bar em um shopping na Barra da Tijuca, no Rio. Numa quarta-feira em que os termômetros cariocas registraram sensação térmica de 59,5ºC, até mesmo o humor de Zeca Pagodinho foi afetado. Mas não por muito tempo. Como ele lembra, seu pai, Jessé da Silva, morreu aos 87 anos, em 2015, e a mãe, Irineia da Silva, dona Neia, no ano passado, aos 92 anos, dormindo. “Velhos e bebendo”, pontua Zeca.

Diabético e com exames em dia, ele desconversa ao falar do tamanho de sua bandejinha de remédios no café da manhã, mas aproxima o celular do braço para mostrar que confere a glicemia. “Problemas de saúde todo mundo tem. Só vivo.”

Colchonete

A turnê Zeca Pagodinho – 40 Anos prevê datas espaçadas para o artista não tomar tempo demais do avô. “Eu quero viver, cara. Eu quero ficar com os meus netos. Adoro botar o colchonete na sala e ficar deitado brincando, vendo televisão.”

Recentemente, Zeca participou da animação Mundo Bita, em convite intermediado pelo bandolinista Hamilton de Holanda. “Eu gravei, levei meu neto e achei legal, mas não assisto a esse desenho. Prefiro Tom & Jerry, Pica-Pau. Queria que voltasse o Chaves…”

Ele divide seu tempo entre o Rio e Xerém. “É só dizerem que eu não tenho nada que fazer aqui no Rio que vou embora para lá. É um lugar bom, as pessoas são humildes. Todo mundo se ajuda. A gente tem de ajudar os outros, senão não tem graça a vida.” O problema é o calor. “É o cão. Agora é tudo asfalto. Tem condomínio pra caramba. Progresso, né?”

Salão

A vida de Zeca na Barra da Tijuca tem elementos do personagem de Burguesinha, de Seu Jorge. “Aqui no Rio está a minha música, a gravadora, o meu salão… Minha mulher fala que eu faço uma unha por dia. Cabelo. Não fico três dias sem ir lá… Tem uma foto minha lá, tipo funcionário do mês.”

Zeca Pagodinho sabe brincar. Chama um funcionário do bar e pede que ele cante. Josué Corán, venezuelano de 28 anos, canta “Deixa a vida me levar”. “Bota na entrevista, temos de fazer uma campanha pra ele conseguir trazer a mãe dele lá da Venezuela”, pede o cantor.

Ele costuma dizer que “o artista engoliu o compositor”. Mas a fonte não secou. Acabou de mandar uma música para Alcione e tem pego letras antigas e enviado para parceiros como Moacyr Luz. “Mas tem dia que eu não quero nem falar de compositor. Você entra no táxi e o cara vem com ‘deixa a vida me levar’. Ah, mermão, bota Waldick Soriano, qualquer coisa.”

Para quem é amado como símbolo da simpatia e do bom humor, o assédio dos fãs pode ser um desafio. “Eu sou simpático. Mas não pra chato e gente abusada. Fui no velório do meu cavaquinista e queriam que eu fosse à capela ao lado, porque o defunto era meu fã… Fui visitar meu pai na UTI, a mulher pediu pra tirar uma foto comigo e falou: ‘Dá um sorriso’. Tô numa UTI, né? Vou rir de quê?”

Para Zeca, a pandemia afetou o espírito do brasileiro. E a polarização da sociedade o deixa inconformado. “Tenho amigos que acabaram a amizade. Coisa babaca, né? Eu não falo de política e na minha casa não se pode falar. O assunto aqui é beber, cantar, contar história.”

No clã do Zeca, religião também não provoca discussão. “Minha mulher é evangélica, eu sou macumbeiro. Vou na igreja com ela. Sou de Deus. E de vez em quando tenho de ir lá nos mais velhos, fazer umas coisinhas.”

Registro terá faixas de ‘imenso valor afetivo’, diz Paulão Sete Cordas

Zeca está chegando aos 65 anos “em plena forma”, diz Paulão Sete Cordas, diretor musical de sua banda. “O Zeca sempre sabe se ajeitar, mesmo em circunstâncias adversas”, comenta o músico.

Há 36 anos com Zeca, ele conta que ainda está “trocando figurinhas” com Pretinho da Serrinha para acertar o repertório, que deve incluir 26 músicas. “Estamos falando de sambas com imenso valor afetivo. É muito difícil escolher entre tantas coisas bacanas, de tantos álbuns.”

Entre as canções resgatadas devem estar clássicos como Pisa Como Eu Pisei (de Beto Sem Braço e Aluísio Machado) e pérolas divertidas e cultuadas pelos fãs como Vacilão, de Zé Roberto, e Exaustino (Roberto Lopes, Canário e Nilo Penetra). O maestro Rildo Hora, nome fundamental da carreira de Zeca, vai participar como instrumentista, para reviver Judia de Mim (de Wilson Moreira e Zeca).

Os ensaios começam na segunda, 22, e surpresas podem surgir também nos arranjos. “No ensaio todo mundo dá palpite. Quando vai tocar de novo, já surge alguma coisa, e a gente aproveita as ideias”, conta Paulão.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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